Por: FABÍOLA MARIA FARIAS - FAMA
O Partido dos Trabalhadores (PT) se encontra diante de uma encruzilhada histórica. Em meio a eleições internas para a renovação dos seus diretórios, a legenda que governa o Brasil terá, nos próximos meses, a oportunidade de se reorganizar e traçar o caminho que pretende percorrer rumo a 2026. Mais do que uma disputa burocrática, esse processo servirá como termômetro da vitalidade política do partido e de sua capacidade de enfrentar o avanço de uma direita radicalizada e estrategicamente posicionada nas bases eleitorais do país.
Com a reeleição de Lula como missão prioritária, e ainda sem um nome claro para substituí-lo no futuro, o PT precisa mais do que nunca de uma força-tarefa interna. O desgaste natural de um terceiro mandato presidencial, somado à crescente influência do bolsonarismo, das igrejas evangélicas com representação legislativa expressiva, e da possibilidade de um Senado ainda mais conservador, exigem um reposicionamento claro e coeso da legenda.
Lula, estrela maior do partido e figura que transcende a própria sigla, continua sendo o grande trunfo. Mas também é um ponto de interrogação: como preparar uma sucessão legítima, confiável e carismática em um cenário de lideranças pulverizadas e sem a mesma capilaridade popular? Essa lacuna torna urgente a definição de estratégias, nomes e projetos capazes de reencantar tanto as bases quanto a opinião pública, hoje dividida e muitas vezes apática.
As eleições municipais deste ano serão fundamentais. É nelas que o "fator formiguinha" age com mais força, movimentando militâncias, reorganizando territórios e testando a popularidade das ideias. Um desempenho aquém pode comprometer o projeto nacional; um avanço, por outro lado, pode representar a retomada do pulso nos rincões do Brasil.
Com o avanço do centrão na base do governo, o PT foi empurrado para negociações que o enfraqueceram ideologicamente. Para governar, tem cedido. Para vencer novamente, precisará reconquistar. As eleições nos diretórios, portanto, devem ser tratadas com seriedade e visão estratégica: escolher bem agora é evitar furos mais à frente, furos que podem custar caro.
Se Lula renovar o mandato, terá pela frente o desafio de formar um sucessor à altura. Tarefa das mais difíceis. Não por falta de nomes, mas porque o presidente virou uma espécie de grife política: uma legitimidade quase intransponível dentro da esquerda brasileira. Ninguém, até aqui, conseguiu ocupar esse vácuo com a mesma força simbólica.
Cada peça no xadrez petista precisará estar bem posicionada. Um movimento em falso pode significar o xeque-mate de uma história de décadas marcada por lutas e conquistas sociais.